quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

15 anos sem Chico science



Eu vim com a Nação Zumbi
Ao seu ouvido falar
Quero ver a poeira subir
E muita fumaça no ar
Cheguei com meu universo
e aterriso no seu pensamento
Trago a luzes dos postes nos olhos
Rios e pontes no coração
Pernambuco embaixo dos pés
E minha mente na imensidão.
(Mateus enter)

Cá estou eu com a cara de pau que só quem admira muito um ídolo pode ter para escrevinhar umas palavras, extremamente passionais, bairrista sim e daí?
Pernambuco poucas vezes teve um personagem tão influente, tão genial quanto Chico, a lama desse manguezal foi um manancial de inspiração apara esses caranguejos com cérebro, cabeças pensantes e atuantes que fizeram deste lamaçal, uma referencia de música movimento e atitude, Chico se foi, mas seu legado foi tão forte, tão genial que nunca vai sair de cena, impossível conhecer sua arte e ficar passível, arrisco a dizer que ninguém escapa impune ao mangue beat.

Não consigo ouvir suas músicas sem me arrepiar, não dá pra não pensar que a lama cheia de urubus ainda vive aqui, cada dia mais forte, mais nojenta, a manguetown está infestada deles, nada muda, o de cima ainda sobe e o de baixo, bem sabemos o resto...
O seu movimento ia além das musicas, chamava as pessoas a pensar, questionar a sociedade, esse coronelismo imundo disfarçado de democracia... bem, Fred zero 4 escreveu o manifesto caranguejos com cérebro, e disse muita coisa.
 “a cidade acordou com a mesma fedentina do dia anterior”, não estamos falando apenas da catinga (fedor, mau cheiro) que emana dos canais putrefatos da cidade, podemos ir além nesta fedentina... ou seja nada muda nesses 15 anos...
Nunca vi Chico ao vivo, se foi eu era muito nova, mas atravessei a adolescência sendo influenciada por seu som, suas letras e vi feliz que meu irmão gostava do que ouvia, sim mais um mangueboy, e esta admiração se renova, se reinventa, cresce cada dia, não ousaria dizer que todos súditos da nação são politizados e tem uma questionamento social e político ou tem o discernimento para um dialogo sobre as questões da cidade, mas arrisco dizer que os que acompanham o movimento, em sua maioria possuem um olhar e idéias diferenciadas, são questionadores e inquietos, capazes de não deixar-se alienar pelo sistema vigente dos urubus que Chico tanto falou...

“um homem roubado nunca se engana”, às vezes sim... nem sempre!
Mas a frase “quanto mais miséria tem mais urubu ameaça”, te diz algo? Te identifica algo?
Nosso como, recife está sendo devorada por urubus famintos, que se alimentam da ignorância desse povo, de sua pobreza...

Na manguetown a lama é para todos, exceto os urubus.

A arte deste cara foi tão pungente, tão transformadora que seu legado mantém vivo até hoje a nação zumbi, quantas bandas continuaram com tamanha força após perder seu líder? Bem talvez porque dentro da nação existissem muitas cabeças geniais, sim sem dúvida, ideologias, pensamentos e idéias musicais tão bem entranhadas em cada um, tão sincronizadas com o movimento que nos dá ainda hoje o prazer de ver a nação zumbi tocar...
E ver sua influência em tantas outras, ainda temos mundo livre, e vem mombojó, e cordel, e tanta gente que graças a Chico e aos contemporâneos do movimento gritaram em alto

Recife é aqui pensamos e criamos, estamos vivos e temos som da melhor qualidade...desculpe mas misturar rock com maracatu, caboclinho, reizado  e cavalo marinho não é pouca coisa, é revolucionário! É lindo!
Uma das melhores experiências musicais que alguém pode ter é ver a nação ao vivo, gente, a junção do som do baixo, da guitarra unido as alfaias dos maracatus é simplesmente genial, sei lá, não tem outra palavra, seu coração pulsa junto, bate na garganta chega à boca, você sente-se parte maior de algo, tua terra, teu som tua raiz unida ao som do rock putz é lindo, é emocionante é de verter lágrimas, perdi a conta de quantas vezes isso me aconteceu, emociono fácil, ver a nação zumbi no palco é sentir milhares de pessoas dizendo
“Chico você ta aqui, brigada, você vive”
Ele é imortal gente, sua obra sobrepuja o tempo, o espaço,
Chico era tão arretado, tão envenenado que partiu no melhor da festa, deixou uma coisa tão grande assim porque se sabia imortal, pregou uma peça na gente, e certamente ta olhando e dizendo, que a manguetown está onde ele queria que estivesse, no centro do mundo, com seu legado, provou que os caranguejos pensam sim, e muito!

Nos próximos dias assistirei mais um show da nação zumbi, e esse turbilhão de emoção vai ser massa, e quando estiver com meus amigos cantando com recife embaixo dos pés certamente sentirei exatamente assim:

“Fechando os olhos e mordendo os lábios, sinto vontade de fazer muita coisa’ (“Enquanto o Mundo Explode”)


Link para ler o manifesto caranguejos com cérebro escrito por Fred 04
http://manguebeat.wordpress.com/2007/12/31/o-manifesto-do-mangue-beat/
http://memorialchicoscience.com/

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

uma rua chamada moeda

De quantas formas um bairro pode fazer parte de uma vida?
 E uma rua?
É algo relativo e sempre dependerá de como as pessoas vêem o mundo, o vivem e se relacionam com seu meio.
Uma cidade é uma entidade viva, pulsante, de veios sanguinolentos e cálidos a contar histórias e a receber e dar influências a quem se permita.
Poucos lugares relacionam-se tão bem com a diversidade quanto meu recife (o bairro), e poucos redutos são tão emblemáticos quanto minha moeda (a rua).
Idolatrada, personificada, maltratada, estereotipada, vitimada pelo preconceito, amada, festejada, tantos adjetivos cabem nela.
Na rua da moeda cabe um universo, coexistem figuras e histórias tão distintas que só fazem aumentar sua magia.
Se você disser que freqüenta a rua, pode ser alvo de um olhar que traduz, é maconheiro, é roqueiro doidão... hahaha
Delícia essa imagem marginal dos frequentadores de minha rua, sim senhores se você lá vai deve ser indubitavelmente da tribo dos roqueiros, aquelas figuras que se amontoam tal quais corvos em bando, pousados em suas calçadas, sempre estranhos a ouvir musicas estranhas, ok curto rock e não vivo all Black, você crê? Yes!
Ou pode ser um apreciador da canabis, que se refugia para poder fazer em grupo o que é não-legal... haha nem sempre.
Ou você é alternativo, curte um som diferente, maracatu, coco, seiláoque, essas manifestações que fazem todo domingo, coisa que turista gosta.
Nem sempre amigo.
Pois bem, a rua da moeda aceita todos, e mais ainda, na minha adolescência predominantemente amante do rock e do alternativo encontrava-se lá, pessoas politizadas, com discurso e idéias, ideais e bom humor, tudo regado a vinho barato, cerveja, muita risada som alto e conversas infindas, nas mesas dos bares não tão bonitos, mas sempre tão atrativos, bar do seu rainha sempre a nos tratar como filhos, se o som não agradava era só pedir aplaudir gritar que a coisa se resolvia, sem estresse, brigas ou coisa assim, as calçadas eram ótimas companheiras, claro nem sempre estudante tem grana, então, cota para a bebida e calçada para sentar...
O importante era estar...
Tanta gente interessante, tanta ideologia ali presente, depois que a soparia do Roger fechou, creio que seus órfãos migraram para a rua da moeda.
Tantos anos e tantas mudanças em minha rua,em muitos momentos os que a freqüentavam, sentimo-nos preteridos, a despeito de obras que não acabavam, tentaram elitizar minha marginal, não sou contra o novo, pelo contrário, sempre bom coisas novas e que somem algo, galerias e restaurantes finos, olha a marginal virando Cult!
Reforminhas e tentivas de elitizá-la não declarados claro...
Não adianta, os corvos ainda estão lá, nossos bares de paredes sujas também, os que gostam de reggae ainda colorem as calçadas e agora dividimos nosso espaço com rodas de samba, e personagens que não sabem o que o movimento mangue representa...manguebeat?  Que é isso mesmo?
Ok, sem preconceito, afinal a moeda tem mais que duas faces, cabem meu recife inteiro, se você declarar-se freqüentador não adianta, ainda vão te chamar de doidão...
Mas é bom ser doidão na moeda, quando lá estamos com amigos conversando, lembramos que nem tudo é feio e promíscuo, que apesar de... tanta coisa
Ainda somos livres pensantes e que idéias surgem o tempo todo, que Chico science está vivo, e que o mangue se reinventa, minha manguetown tem uma rua das  mais cosmopolita deste mundinho mais ou menos.
E lembramos que não precisa de motivo pra p.n., nem de evento acontecendo basta chamar os amigos pra tomar uma cerveja ou um vinho gelado na rua da moeda, que o resto é história!