terça-feira, 7 de dezembro de 2010

natal

Ela não ela não gostava de natal...era o que dizia aos amiguinhos, ou quando perguntada, não sabia o que dizer, não entendia...mas não era questão de entender, ela sentia...ela sabia, aquilo não fazia parte de seu mundo...
Sentia como se um animal de milhões de olhos e braços e bocas empertigassem sua alma em questionamentos infindos...
O que você vai pedir?
Quanto vai ganhar?
aonde vai?
Como é sua ceia?...
Odiava as perguntas, odiava as pessoas que perguntavam... mas odiava era a resposta, porque não as tinha.
Não parecia justo... e não era...
Dois mundos  tão diferentes que tragavam-na para um abismo de tristeza, era menina, mas sua pouca idade lhe permitia entender as coisas.. a pobreza faz uma estranha transmutação nas crianças...
Por vezes elas “ adultecem”,outras caem numa melancolia eterna e tornam-se pessoas caladas, que tem medo de incomodar, tentam ser invisíveis, outros ainda se rebelam...
Ela sabia e nunca ousou perguntar os pais pela falta de natal...
Não haviam enfeites, nem árvores..era tudo muito árido....sua terra...e seu natal.
Passava suas noites a desenhar uma mesa tão farta, tão bonita que nem sabia como era possível...
E nasciam de seus dedos, um peru gordinho..sanduiches bonitos, e copos cheios de chocolates e frutas,e tantos pratos que vira na TV...e tinha um vaso...sim um vaso de flores bem no meio...
Desenhar lhe confortava a alma... até que  a noite que chegava...
Punha uma roupa nova e brincava e corria... e todo seu sofrimento se purgava...
Sentia tristeza pela mãe, pelo pai... por sua existência...
E na hora de dormir rezava...por uma existência menos dolorida, por coisas que queria saber como eram...para que as pessoas não lhe perguntassem mais nada...
E dizia baixinho ao anjo da guarda...que adorava o natal...


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